segunda-feira, 19 de julho de 2010

Termos de Transição

O conhecimento desses termos de transição ajuda a dar maior organicidade ao pensamento, o que faz o texto progredir mais facilmente. Mas é preciso uma advertência: não devemos usá-los a cada frase começada. Se fizermos assim, tornaremos o texto pesado. Também não devemos cair no oposto: ignorá-lo completamente. Nosso texto correrá o risco de ficar cansativo, quando não incompreensível. Saber usar os termos de transição deve ser uma preocupação constante de quem deseja escrever bem. Eles são muito úteis ao mudarmos de parágrafo porque estabelecem pontes seguras entre dois blocos de idéias.

Eis os mais importantes e suas respectivas funções:

afetividade: felizmente, queira Deus, pudera, Oxalá, ainda bem (que).

afirmação: com certeza, indubitavelmente, por certo, certamente, de fato.

conclusão: em suma, em síntese, em resumo.

conseqüência: assim, conseqüentemente, com efeito.

continuidade: além de, ainda por cima, bem como, também.

dúvida: talvez, provavelmente, quiçá.

ênfase: até, até mesmo, no mínimo, no máximo, só.

exclusão: apenas, exceto, menos, salvo, só, somente, senão.

explicação: a saber, Isto é, por exemplo.

inclusão: inclusive, também, mesmo, até.

oposição: pelo contrário, ao contrário de.

prioridade: em primeiro lugar, primeiramente, antes de tudo, acima de tudo, inicialmente.

restrição: apenas, só, somente, unicamente.

restrição: aliás, isto é, ou seja.

tempo: antes, depois, então, já, posteriormente.

In: VIANNA,Antonio Carlos et allii. Roteiro de Redação: escrevendo e argumentando. Scipione: 1999.

domingo, 18 de julho de 2010

Preposições - Valor Semântico

1. Comparando as frases:

Mora com a família.

Combinou com você

observamos que, em ambas, a preposição com tem como antecedente uma forma verbal (mora e combinou), ligada por ela a um conseqüente, que, no primeiro caso, é um termo acessório (com a família = adjunto adverbial) e, no segundo, um termo integrante (com você objeto indireto) da oração.

2. A preposição com exprime, fundamentalmente, a idéia de “associação”, “companhia”. E esta idéia básica, sentimo-la muito mais intensa no primeiro exemplo:

Mora com a família.

do que no segundo:

Combinou com você.

Aqui o uso da partícula com após o verbo combinar, por ser construção já fixada no idioma, provoca um esvaecimento do conteúdo significativo de “associação”, “companhia”, em favor da função relacional pura, apenas nocional.

3. Costuma-se nesses casos desprezar o sentido da preposição e considerá-la um simples elo sintático, de conteúdo nocional.
Cumpre, no entanto, salientar que as relações sintáticas que se fazem por intermédio de preposição obrigatória selecionam determinadas preposições exatamente por causa do seu significado básico.
Exemplificando:
O verbo combinar elege a preposição com em virtude das afinidades que existem entre o sentido do próprio verbo e a idéia de “associação” inerente a com.
O objeto indireto, que em geral é introduzido pelas preposições a ou para, corresponde a um “movimento em direção a”, coincidente com a base significativa daquelas preposições.

Dei um presente para o aniversariante. (o exemplo é meu)

4. Completamente distinto é o caso do objeto direto preposicionado, em que o emprego de preposição não obrigatória transmite à relação um vigor novo, pois o reforço que advém do conteúdo significativo da preposição é sempre um elemento intensificador e clarificador da relação verbo-objeto:

“Oh! se a estes conheceras,
Meu Frei Gil de Santarém
(G. Dias, PCPE, 289.)

Bebi do vinho. (exemplo meu)
5. Em resumo: a maior ou menor intensidade significativa da preposição depende do tipo de relação sintática por ela estabelecida. Essa relação, como esclareceremos o seguir, pode ser fixa, necessária ou livre.

Relações fixas
Examinando as relações sintáticas estabelecidas, nas frases abaixo, pelas preposições assinaladas:
“Nós temos fibra patriótica; mas um estimulante de longe em longe não faz mal a ninguém.”
(M. de Assis, OC, III, 346.)
“Hei de sempre adorá-la, hei de querê-la. .
(A. de Guimaraens, OC, 92.)
“Por onde é que andas, ribeiro,
descoberto por acaso?”
(C. Meireles, OP, 655.)
“Ao levantar-se deu com o médico e teve um sobressalto.”
(M. de Assis, OC, li, 503.)

verificamos que o uso associou de tal forma as preposições a determinadas palavras (ou grupo de palavras), que esses elementos não mais se desvinculam: passam a constituir um todo significativo, uma verdadeira palavra composta.
Nesses casos, a primitiva função relacional e o sentido mesmo da preposição se esvaziam profundamente, preponderando tanto na organização da frase como no valor significativo um conjunto léxico resultante da fixação da relação sintático preposicional.
Em dar com (“topar”), por exemplo, a preposição, fixada à forma verbal, faz mais do que acrescentar-lhe novos matizes conotativos: altera-lhe a própria denotação.

Relações necessárias
Nas orações:
“Minha mãe acedeu prontamente à minha vontade.”
(C. C. Branco, OS, 1, 713.)
“A sua admiração por Zezinho era ilimitada.”
(G. Áranha, OC, 459.)
“Volto de sua casa.”
(J. de Alencar, OC, 1, 552.)
“A vila foi tomada de misticismo.”
(G. Amado, HMI, 143.)
as preposições relacionam ao termo principal um conseqüente sintaticamente necessário:

acedeu à minha vontade (verbo + objeto indireto)

admiração por Zezinho (substantivo + comple mento nominal)

Volto de sua casa (verbo + adjunto adverbial necessário)

foi tomada de misticismo (verbo + agente da passivo)

Em tais casos, reduz-se a função relacional das preposições com prejuízo do seu conteúdo significativo, reduzido aos traços característicos mínimos.
Daí o relevo, no plano expressivo, da relação sintática em si.

Relações livres
A comparação dos enunciados:

Encontrar com um amigo.

Encontrar um amigo.

Procurar por alguém.

Procurar alguém.

mostra-nos que a presença da preposição (possível, mas não necessária sintaticamente) acrescenta, às relações que estabelece, as idéias de “associação” (com) e de “movimento que tende a completar-se numa direção determinada” (por).

O emprego da preposição em relações livres é, normalmente, recurso de alto valor estilístico, por assumir ela então a plenitude de seu conteúdo significativo.
CUNHA, Celso Ferreira.Gramática da Língua Portuguesa. MEC. 1972, p. 512 a 518)

Coesão

Definição

Beaugrande e Dressler, 1981 (ap. Fávero, 1995)

A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligados entre si dentro de uma seqüência.

Como se verifica a coesão de um texto?

Verificamos se um texto é coeso ou não analisando dois aspectos em sua estrutura: a coesão referencial e a coesão seqüencial

Coesão referencial: Certos elementos na língua não são interpretados por seu sentido próprio, mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua interpretação. A referência constitui um primeiro grau de abstração: o leitor/alocutário relaciona determinado signo a um objeto tal como ele o percebe dentro da cultura em que vive. (ap. Fávero, 1995)
São elementos da coesão referencial:
• REFERÊNCIA (exofórica ou endofórica; se endofórica, anafórica ou catafórica). Há três tipos de referência: pessoal (pronomes pessoais e possessivos, demonstrativa (pronomes demonstrativos e advérbios indicativos de lugar)e comparativa (por via indireta, através de identidades ou similaridades)
• SUBSTITUIÇÃO: colocação de um item no lugar de outro. Pode ser nominal (feita por pronomes pessoais, numerais, indefinidos, nomes genéricos como coisa, gente, pessoa) ou verbal
• ELIPSE: omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a substituição por zero
• CONJUNÇÃO: Estabelecem a coesão do texto de forma indireta. Os principais tipos de elementos conjuntivos são: advérbios, locuções conjuntivas, itens continuativos como então, daí, etc
• COESÃO LEXICAL: É obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o mesmo referente. Exemplos são os hiperônimos (todo/parte)e os hipônimos (parte/todo)

Coesão Seqüencial: Tem por função fazer o texto progredir. Exemplos são os elementos temporais e os conectores do tipo lógico (aqueles que estabelecem relação lógica entre as proposições) e/ou discursivo (aqueles que dão uma orientação argumentativa aos textos).

In: KOCH, Ingedore V. A coesão textual. SP, Contexto, 1995.

Coerência

Definição
Koch,1995
A coerência é, basicamente, um princípio de interpretabilidade e compreensão do texto caracterizado por tudo de que é processo aí implicado pode depender.[...]
O estudo da coerência poderia ser visto como uma teoria do sentido do texto (seja ele uma frase ou um livro, não importa a dimensão), dentro de um ponto de vista de que um usuário da língua tem competência textual e/ou comunicativa e que a língua só funciona na comunicação, na interlocução, com todos os seus componentes (sintáticos, semânticos, pragmáticos, socioculturais, etc.).

Fatores que imprimem coerência a um texto

1). Conhecimento lingüístico: O conhecimento de estruturas lingüísticas de um idioma está diretamente relacionado ao entendimento que se tem de um texto. São fatores lingüísticos importantes para a coerência: retomadas pronominais, descrições definidas (com o mesmo referente), o uso de artigos, conectores, sinônimos, temporalidade, elipse, etc.

2). Conhecimento de mundo: É visto como uma espécie de dicionário enciclopédico de mundo que temos na memória. Ele se estabelece e se armazena na memória em blocos, como unidades completas de conceitos globais: ao lermos um texto, varremos nossas lembranças, que podem ser ativadas ou não por um conteúdo trazido no texto em questão.

3). Conhecimento partilhado: Já que o conhecimento de mundo é importante para o processo de compreensão do texto, emissor e receptor têm de Ter conhecimentos de mundo com um certo grau de similaridade. Isto vai constituir o conhecimento partilhado, que determina a estrutura informacional do texto em termos do que se convencionou chamar de dado e novo.

4). Inferências: Aquilo que se usa para estabelecer uma relação não explícita no texto, entre dois elementos desse texto. São operações que consistem em suprir conceitos e relações razoáveis para preencher lacunas (vazios) e descontinuidades em um mundo textual.

5). Fatores pragmáticos: São os fatores que têm a ver com a influência do pragmático (do uso cotidiano) na coerência. Exemplos são: contexto da situação, interação, interlocução, força ilocucionária, intenção comunicativa, características e crenças do produtor e do receptor no texto, etc.

6). Situacionalidade: Conjunto de fatores que tornam um texto relevante para dada situação de comunicação corrente ou passível de ser reconstituída.

7). Intencionalidade e aceitabilidade: Para que uma manifestação lingüística constitua um texto, é necessário que haja a intenção do emissor de apresentá-la e dos receptores de aceitá-la como tal. As noções de intencionalidade e aceitabilidade são introduzidas para dar conta, respectivamente, das intenções dos emissores e das atitudes dos receptores.

8). Informatividade: Designa em que medida a informação contida no texto é esperada/não-esperada, previsível/imprevisível. O texto será tanto menos informativo quando maior a previsibilidade; e tanto mais informativo quanto menor a previsibilidade.

9). Focalização: Falante e ouvinte, no diálogo, focalizam sua atenção em pequena parte do que sabem e acreditam, e a enfatizam. Assim, certas entidades (objetos e relações) são centrais para o diálogo e não só isto, mas também elas são usadas e vistas através de certas perspectivas que afetam tanto o que o falante diz como o que o falante interpreta.

10). Intertextualidade: Compreende as diversas maneiras pelas quais a produção e recepção de dado texto depende do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores, isto é, diz respeito aos fatores que tornam a utilização de um texto dependente de um ou mais textos previamente existentes.

11). Relevância: Uma das principais condições para o estabelecimento da coerência é a da relevância discursiva. Para ela, um texto é coerente quando o conjunto de enunciados que o compõem pode ser interpretado como tratando de um mesmo tópico discursivo de maneira relevante.

In: KOCH, Ingedore V. A coerência textual. SP, Contexto, 1995.

Intertextualidade

1) 0 que é um texto?
“0 texto será entendido como uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tornada pelos usuários da língua (falante, escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo urna função comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da sua extensão” (Koch)

2) Definindo INTERTEXTUALIDADE
Aurélio: Superposição de um texto a outro. Na elaboração de um texto literário, a absorção e transfomação de urna multiplicidade de outros textos.
Beaugrande e Dressler: A intertextualidade compreende as diversas maneiras pelas quais a produção e a recepção de dado texto depende do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores.

3) Atualidade do conceito
Existe uma consonância entre intertextualidade e modernidade. “Desde que se iniciaram os movimentos renovadores da arte ocidental na segunda metade do séc. 19, e especialmente com os movimentos mais radicais do séc.20, como o Futurismo (1909) e o Dadaísmo (1916), tem-se observado que a intertextualidade é um efeito sintomático de algo que ocorre com a arte de nosso tempo. Ou seja: a freqüência com que aparecem textos intertextuais testemunha que a arte contemporânea se compraz num exercicio de linguagem onde a linguagem se dobra sobre si mesma num jogo de espelhos” (Affonso Romano de Sant’Anna)

4) Sistematização do conceito INTERTEXTUALIDADE

Formalistas russos (ainda no plano literário):
Paródia - discordância de planos (Ex: tragédia/comédia)
EstiIização — concordância de planos/proximidade de vozes

Affonso Romano de Sant’Anna (transcende o plano literário):
Paródia - desvio máximo (Ex: charges)
Paráfrase - desvio mínimo (Ex: traduções)
Estilização - desvio tolerável (Ex: releitura musical)
Apropriação - “bricolagem” do texto alheio (Ex: arte conceitual)

André Valente (perspectiva metalingüística):

Intertextualidade interna - referência do autor a si próprio
Intertextualidade externa - encontra-se em obras de autores distintos
- Explícita (citação)
- Implícita (alusão)